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newDATAmagazine® 16 - Editorial

Cidades “verdadeiramente inteligentes”

Editorial newDATAmagazine® N.º16

 

Cidades “verdadeiramente inteligentes”

Não existe consenso sobre a data em que teve início o Antropoceno, a era em que as atividades humanas começaram a ter um impacto global significativo nos ecossistemas da Terra ao ponto de os comprometer. No entanto, o facto de, pela primeira vez na história, em 2020, a massa dos objetos construídos pela humanidade ter superado em peso a massa dos seres vivos (Revista Nature) é um sinal evidente de que estamos em plena era antropocénica e que já não voltamos atrás.

Neste contexto, falar de cidades inteligentes faz todo o sentido. Por muito que se queira, os humanos atualmente vivos veem a sua esperança média de vida aumentar e não há sinais de que a população mundial vá diminuir. Por isso, é necessário planear as cidades.

Muito se fala de cidades inteligentes, como se estas pudessem ter vida por si mesmas, sem a constante presença e ação das pessoas, retirando o ónus de planear e manter o seu funcionamento do lado dos seus responsáveis, como se dotar a cidade de uma certa “inteligência” resolvesse todos os problemas.

Atentemos, por exemplo, no problema das inundações. Apesar de o World Bank, na sua publicação Cities and Flooding, afirmar que “As inundações urbanas representam um sério desafio ao desenvolvimento e à vida das pessoas, particularmente dos residentes das cidades em rápida expansão nos países em desenvolvimento.”, o facto é que, numa consulta da lista das 20 cidades mais vulneráveis a inundações, percebemos facilmente que o problema não está relacionado com desenvolvimento ou com a tecnologia, mas sim com as características dos terrenos e as alterações climáticas que afetam democraticamente países desenvolvidos e em desenvolvimento.

É nestes cenários que as cidades inteligentes são necessárias, resolvendo questões estruturais e de organização que permitam às pessoas uma vida com mais qualidade.

As 30 cidades com mais população a nível mundial têm mais habitantes do que Portugal inteiro. Imagine colocar numa cidade apenas todos os problemas de circulação, habitação, infraestruturas, segurança, e por aí adiante, que existem no nosso país. É um caos, certo?

Hoje já se projetam cidades (quase) autossuficientes. Estas pequenas comunidades oferecem aos habitantes tudo o que necessitam para a sua vida diária, a distâncias muito curtas. Reduz-se a circulação automóvel e viabilizam-se os transportes públicos, como em pequenas aldeias. E, provavelmente, teria sido esta a melhor opção para crescimento das cidades no passado: conectar de modo eficiente e sustentável muitas pequenas aldeias em vez de “fazer” crescer megacidades que se revelam insustentáveis, pouco amigas do ambiente e descaracterizadas.

Talvez não seja tarde para voltar atrás… quem sabe. As vantagens parecem-me evidentes, de onde destaco a identidade cultural e a qualidade de vida!

Horácio Lopes | Editor

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"Truly Intelligent" Cities

There is no consensus on when the Anthropocene began - the era when human activities started to have a significant global impact on the Earth's ecosystems to the point of compromising them. Still, the fact that, for the first time in history, by 2020, the mass of objects built by humanity will have surpassed in weight the mass of living beings (Nature Magazine) is a clear sign that we are in the middle of the Anthropocene era and that we are not going back.

In this context, talking about smart cities makes perfect sense. As much as we would like to, humans currently alive are seeing their average life expectancy increase, and there are no signs that the world's population will decrease. Therefore, it is necessary to plan cities.

There is a lot of talk about intelligent cities as if they could live on their own, without the constant presence and action of people, removing the onus of planning and maintaining their functioning from those in charge, as if endowing the city with a specific "intelligence" would solve all problems.

Take, for example, the problem of flooding. Although the World Bank, in its publication Cities and Flooding, states that "Urban flooding poses a serious challenge to development and people's lives, particularly for residents of rapidly expanding cities in developing countries," the fact is that looking at the list of the 20 most vulnerable cities to flooding, we can quickly notice the problem is not related to development nor technology. Instead, it is related to land characteristics and climate change that democratically affects developed and developing countries.

In these scenarios, smart cities are needed, solving structural and organizational issues that allow people to live a higher quality of life.

The 30 most populated cities in the world have more inhabitants than the whole of Portugal. Imagine putting into one city all the problems of traffic, housing, infrastructure, security, and so on that exist in our country. It's chaos, right?

Today we are already designing (almost) self-sufficient cities. These small communities offer their inhabitants everything they need for their daily lives within very short distances. Car traffic is reduced, and public transportation is made possible, just like in small villages. And this would probably have been the best option for growing cities in the past: efficiently and sustainably connecting many small villages instead of "growing" megacities that turn out to be unsustainable, environmentally unfriendly, and uncharacterized.

Maybe it's not too late to turn back... who knows. The advantages seem obvious to me, from which I highlight cultural identity and quality of life!

Horácio Lopes | Editor

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