nDm 15 | 28.jul.2022
A 15.ª edição da newDATAmagazine® foi publicada no dia 28 de julho de 2022.
MENSAGEM DA DIRETORA
Perspetivando
Há poucas décadas, perspetivar o futuro era, maioritariamente, o equivalente a fantasiarmos sobre o teletransporte ou as viagens no tempo. Fundamentais para a orientação do ser humano, não é de estranhar a efabulação em torno das possibilidades de nos identificarmos e de nos movermos nas suas dimensões, pelo que não faltaram narrativas escritas ou mesmo levadas para o grande écran que alimentavam este sonho de iludir a física e as leis pelas quais se regem os fenómenos da natureza.
Imaginar viagens no espaço, fator decisivo na construção do modo de ver e pensar o mundo, era igualmente um exercício de ficção, que estimulava efabulações comportamentais sobre novas e inusitadas experiências – não é fortuito o facto de ser o espaço o elemento soberano na história da arte. Ultrapassar a sua tridimensionalidade (altura, largura, comprimento), cujo conhecimento e adaptação nos são inerentes, enquanto seres humanos, por se tratar de um elemento primário das nossas interações – uma vez que afeta os nossos sentidos e reações, induzindo comportamentos, organizando a nossa experiência na construção do mundo – constava do cardápio onírico de muitos.
O facto é que o espaço e o tempo não devem ser vistos separadamente, mas, pelo contrário, são duas componentes inseparáveis de uma única entidade chamada espaço-tempo. Este conceito, erroneamente atribuído a Einstein, foi criado pelo matemático Hermann Minkowski (1864–1909), que, anos antes do conhecido físico, enunciara que o espaço e o tempo não se podem separar e que cada evento deve ser descrito recorrendo a quatro coordenadas (ou dimensões): três espaciais e uma temporal. Estaria, presumivelmente, Minkowski longe de imaginar que a ênfase colocada nesta fusão viesse, no século XXI, a constituir um conhecimento adquirido a partir das experiências e vivências quotidianas.
O que, há 100 anos, não se anteveria era que um novo vocábulo, resultante de um novo conceito e, concomitantemente, de uma nova realidade, viesse a integrar a vida do cidadão do segundo milénio: o ciberespaço – termo idealizado por William Gibson, em 1984, no livro Neuromancer, referindo-se a um espaço virtual composto por cada computador e usuário conectados numa rede mundial. Foi, de facto, na última metade do século XX, com o surgimento da rede digital e do ciberespaço, que foi explicitada a possibilidade de virtualização e o virtual passou a ser um traço inquestionável nas práticas sociais.
Numa curta extensão de tempo, consequência de uma globalização crescente, o espaço virtual tornou-se, perdoem-me o paradoxo, real e o mundo digital (aquele que é construído sob a forma numérica) está na ponta dos nossos dedos e tomou assento à nossa mesa, mesmo quando não nos damos conta de o ter convidado.
Acelerado e incessante, o desenvolvimento tecnológico das últimas décadas veio, pois, permitir-nos, por via do acesso computacional, a possibilidade de criar conexões e relacionamentos capazes de fundar um espaço de sociabilidade virtual. Falo, obviamente, do espaço cibernético, um novo espaço de sociabilidade, conceito vasto e pluridisciplinar, que é não-presencial e que possui impactos importantes quer na produção de valor, como nos conceitos éticos e morais e nas relações humanas e que intensificou transformações sociais nos mais diversos campos da atividade humana.
O ciberespaço, novo meio de comunicação e também novo mercado de informação e do conhecimento, domina hoje o quotidiano e, alheio a fronteiras de tempo ou espaço, veio a manifestar-se imperativo na facilitação do acesso a bens, serviços e, principalmente, ao conhecimento.
Inter-relacionados, o espaço e o ciberespaço relacionam-se de inúmeras formas. Por um lado, o ciberespaço está dependente do espaço real em termos de infraestruturas, uma vez que os computadores, as telecomunicações e outras tecnologias de informação não se propagam de uma forma homogénea pelos territórios. Por outro lado, o espaço físico já não consegue ser independente do espaço virtual – a integração das tecnologias da informação nos vários setores socioeconómicos da sociedade é tão elevada que se torna impossível trabalhar e viver na sociedade atual sem o recurso ao ciberespaço. Conceber uma cidade como um espaço meramente real, físico, no mundo contemporâneo, é impensável.
É, pois, a estreita relação com a IoT que nos leva a mais um novo conceito, o das cidades inteligentes (smart cities), espaços geográficos que se evidenciam por características como a eficiência do planeamento urbano, a melhoria da sustentabilidade ambiental; o investimento em tecnologias aplicadas à educação e à saúde; a existência de um sistema de comércio eletrónico e ainda, entre outras, a partilha de dados (open data). No fundo, falamos da tendência indispensável para a construção de uma sociedade mais sustentável, assente num planeamento urbano e eficiente. O conceito de cidade inteligente é o de um espaço que propõe uma melhor a relação do lugar com os cidadãos, ao mesmo tempo que protege o meio ambiente e promove uma significativa melhoria na mobilidade, entre outras condições igualmente necessárias aos desafios pessoais, sociais, globais do quotidiano. No fundo, projetam-se espaços/cidades mais habitáveis.
Nesta vertigem do progresso humano, e da universal habitabilidade, a newDATAmagazine® tem vindo a evidenciar-se como um espaço de franqueamento do futuro, onde confluem a informação e a opinião, abrindo lugar ao sedento mundo novo que se constrói a cada dia.
As colunas e os artigos que a enformam destacam-se pela qualidade dos conteúdos, e, naturalmente, dos seus autores, que aqui encontram o espaço próprio à divulgação e reflexão sobre o mundo contemporâneo. É o futuro perspetivado agora. Sedentos do devir, tornamo-nos sedentos de cada nova edição.
Um bem-haja a todos os que aqui depositam o seu tempo, quer do lado da produção como da fruição.
Margarida Correia