Page 24 - newDATAmagazine | 01>05>2021
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Aprender à distância no ensino secundário:
MITO OU OPORTUNIDADE?
A 11 de março de 2020, o Governo decretava transgressões às regras de “sala de aula” –
aquele que veio a ser o maior e mais microfones desligados, câmaras (quando
impactante desafio para a escola e para as existiam) desligadas, manuseamento do
famílias da atualidade: a suspensão das telemóvel, conversas com familiares,
atividades letivas e não letivas presenciais. A v e s t u á r i o i n a d e q u a d o , a u s ê n c i a s
emergência da saúde pública fez aprovar o injustificadas...
estabelecimento de medidas temporárias e G a r a n t i r a e q u i d a d e f o i , m u i t o
excecionais e impôs à educação este regime provavelmente, o desafio simultaneamente
também ele excecional e temporário, mais necessário e mais improvável de cumprir.
transformando o espaço e o tempo de forma Não apenas as diferentes condições sociais,
imprevista e desigual - o primeiro encolhia, económicas, culturais e outras implicaram
enquanto o segundo dilatava. respostas diferentes à aprendizagem, como a
O ensino à distância deitou por terra ausência de contacto presencial com o(s)
recursos e metodologias tradicionais, ditando professor(es) inibiu, por parte destes, a
o avanço tecnológico como necessidade e deteção e/ou atuação em situações de
oportunidade para a mudança. Sem tempo ou desinteresse, displicência ou mesmo
meios para o ensaio, uns mais habilitados que negligência, quer por parte dos jovens, quer por
outros, professores e alunos foram parte dos respetivos pais/encarregados de
desempenhando o seu papel nesta narrativa educação. O contexto habitacional/familiar,
do futuro assente em desafios, dificuldades e tradicionalmente espaço de descanso, de
efeitos. relaxamento, de convívio, de desobrigação,
Os recursos materiais (equipamento passou a ser polivalente. Não só para os
informático, conectividade e infraestruturas) jovens a casa se fundia com a escola, como
constituíram apenas o primeiro obstáculo. A para os progenitores a casa se fundiu com o
muitos alunos não foi possível a privacidade emprego. Esta indistinção promoveu
necessária para assistir às aulas (interferência instabilidade, insegurança, desleixo, apatia,
de irmãos mais novos, de animais domésticos, saturação e até desorientação. O conceito de
de telefones, entre outros elementos “trabalho autónomo” adquiriu novo sentido,
distratores), e/ou o acompanhamento familiar; gozando até de alguma perversidade, pois a
não foi possível a criação de rotinas de autonomia não se adquire por decreto, é
trabalho, diferentes das presenciais, garantes preciso construí-la, apoiá-la. Os alunos,
da confiança e segurança; não foi assegurada entregues a si mesmos e desconfortáveis no
a prevenção de situações de isolamento ou protagonismo que involuntariamente
mesmo instabilidade ou violência doméstica. experienciavam quando era o seu rosto que se
Amiúde, os professores verificavam destacava no écran, sentiam-se expostos e
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