Page 24 - newDATAmagazine® | 17>09>2022

impactos ambientais associados à semana de
Redução do horário semanal de
trabalho
Nas economias mais produtivas, as
pessoas trabalham menos horas. O
desenvolvimento tecnológico, a forma como o
trabalho está organizado e o tempo pessoal
dos trabalhadores, que pode ser utilizado em
atividades como formação ou lazer, justificam
o aumento da qualidade do trabalho.
No programa do governo em funções, foi
aberta a porta para a redução do horário
semanal de trabalho. Em concreto, foi
proposto “Promover um amplo debate
nacional e [n]a concertação social sobre novas
formas de gestão e equilíbrio dos tempos de
trabalho, incluindo a ponderação de
aplicabilidade de experiências como a semana
de quatro dias em diferentes setores e o uso de
modelos híbridos de trabalho presencial e
teletrabalho, com base na negociação
coletiva”.
Esta medida foi proposta para responder ao
desafio demográfico e para promover a
natalidade. Curiosamente, não está também
enquadrada em termos do seu potencial de
promoção da produtividade, da diminuição de
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40 horas de trabalho, ou do esforço de
inovação e digitalização a que obrigará a
redução do horário semanal.
Inquéritos e outros trabalhos que temos
realizado em Portugal ilustram que tanto o
público em geral como representantes de
empresas parecem estar a favor da redução do
horário semanal de trabalho. A maioria
antecipa que o tempo extra será dedicado,
sobretudo, a atividades de socialização e
interesse pessoal, à formação e ao desporto. O
aumento do consumo de bens e serviços não é
muito estimado, o que, da perspetiva
ambiental, é bastante encorajador. Mais
ainda, existe otimismo quanto aos impactos
desta redução.
Iniciativas de redução do horário semanal
realizadas em empresas portuguesas têm
também tido resultados positivos. Contudo, os
desafios são muitos.
Em primeiro lugar, sendo iniciativas
pontuais em algumas empresas, coloca-se o
problema das “férias”. A empresa pode fechar
à sexta feira, mas o resto das empresas
nacionais, neste momento, não fecham, pelo
que se acumula o trabalho para segunda feira.
Esta situação pode desmotivar a redução
semanal de trabalho.
Em segundo lugar, o processo de redução de
carga horária tem de ser estrategicamente
planeado. A redução do horário semanal de
trabalho não deverá corresponder a uma
simples condensação das tarefas anteriores
num horário de 32 horas. O que os dados do
Our World in Data sugerem é que as pessoas
trabalham menos horas e conseguem ser mais
produtivas quando há desenvolvimento
tecnológico, o trabalho está bem organizado e
os trabalhadores têm formação para realizar
as suas funções.