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Parece, afinal, que cultura e economia
resistem ao estatuto de convergência e se
m a n t ê m e m r e g i m e d e r e c í p r o c a
autoexclusão. Esta é uma dura realidade para
os profissionais da cultura, deuses enjeitados
que vivem uma montanha-russa de aplausos e
vaias, com um público (e um Estado) que vive
sedento dos seus produtos, mas que
paradoxalmente se indigna perante a despesa
que a atividade cultural representa, sem
reconhecer a receita que a mesma atividade
Em 2020, entidades como o CENA-STE gera, quer no eixo material como imaterial.
(Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, O desenvolvimento de Portugal (global e
do Audiovisual e dos Músicos), ativamente r e g i o n a l m e n t e f a l a n d o ) p a s s a ,
comunicativas no que diz respeito ao apelo por incontornavelmente, pela cultura, que é
um compromisso eficiente entre política e indissociável da atividade económica e dos
cultura, ou mesmo figuras imponentes como a seus resultados no tecido social, onde as
atriz, encenadora e ativista Sara Barros Leitão, assimetrias regionais são também o espelho
m a n i f e s t a v a m a i m p o r t â n c i a d o da concentração na região metropolitana de
reconhecimento dos direitos dos profissionais Lisboa e Porto das ICC. Também aqui o reforço
das artes, expondo as fragilidades do setor destas indústrias será igualmente benéfico
cultural, ao mesmo tempo que exigiam para a competitividade das regiões.
medidas que pudessem resolver a natureza S e a p r e n d e m o s o u n ã o c o m o s
dúbia das profissões do setor em causa. Uma
dessas medidas assentava na criação do constrangimentos (mais ou menos) recentes
estatuto intermitente, medida já antes vê-lo-emos na aplicação de medidas voltadas
prometida por Graça Fonseca (ex-ministra da para o crescimento económico, donde
cultura), que protegia os profissionais das esperamos que não fique esquecido no PRR o
artes de regimes sem rendimentos fixos e financiamento de programas culturais como
ausência de apoios da segurança social. caminho para o desenvolvimento global, quer
no âmbito social como económico.
Fomos, desde o primeiro confinamento (em
março de 2020) assistindo ao cancelamento
de inúmeros espetáculos, ao despedimento de Carlota Alves
milhares de profissionais com anos de Atriz
Estudante de Ciências
experiência e descontratação de outros tantos da Nutrição
com condições de trabalho precárias, à Perfil | Profile
suborçamentação do Ministério da Cultura e
ao empobrecer de uma sociedade que carece Margarida Correia
da arte para poder expressar a sua identidade Professora do Ensino Secundário
e, relembramos, de acelerar o crescimento Escola Secundária de Amora
económico. Perfil | Profile
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