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Do que venho hoje aqui falar é de alguns A GESTÃO DO “BUFAR NA NUCA”
mitos que me parece que perduram e sobre os Um dos problemas do trabalho remoto é que
quais se fala pouco, quando, por vezes, são a muitos gestores, em especial em mercados
verdadeira razão para a resistência ao trabalho mais atrasados e menos competentes na
remoto. gestão, como o nosso, em que a maior parte
O LUGAR DO CAFÉ dos gestores é um “prático”, com pouco
conhecimentos de gestão, veem os
Muitos gestores, e até colaboradores sem colaboradores como “seus”, a empresa como
responsabilidades de gestão de equipa, “sua”, e quando pagam, esperam que as
entendem que, se não houver a pausa para o
café, o almoço junto, um momento lúdico em pessoas se desloquem para perto de si, para
os poderem ver e verificar, com os seus
que as pessoas passam o seu tempo a falar
(geralmente mal) de futebol, de política, da próprios olhos, que estão a trabalhar.
família, de séries e filmes ou da vida em geral, “Segundo o estudo, mais de 50% das
as pessoas não vão conseguir trabalhar bem microempresas do país têm um gestor em que
juntas e vão-se desinteressar de continuar a o nível de estudos atingido só vai até ao 3.º
trabalhar nas organizações com quem ciclo do ensino básico (vulgo 9.º ano de
colaboram. escolaridade). Nas pequenas empresas, esta
percentagem é superior a 40%.”
Mas o que este pensamento esquece é que
já antes havia um movimento global e (Publicação no Jornal Económico, Estudo do
geracional de ganhar espaço pessoal, de ter Banco de Portugal, Sharmin Sazedj, 2019)
um maior equilíbrio entre a vida pessoal e Estes gestores, ainda que muitos possam
profissional, uma crescente individualização e estar limitados a atividades e setores em que
um desprendimento natural de uma não seja mesmo possível desmaterializar os
autoridade que perdeu impacto ao longo do processos, são essencialmente gestores que
tempo. se convenceram de que trabalhar é tempo, que
As organizações, há muito que não definem estar presente é querer trabalhar e que os
quem somos. E as gerações mais novas colaboradores são o que, nos anos 60,
entendem isso tão bem que, mesmo sendo McGregor chamou o colaborador “X”.
altamente qualificadas, deixam um trabalho
(presencial) para irem fazer viagens, aprender A M E N T A L I D A D E D O S N O V O S
a fazer mergulho, surf, ou simplesmente COLABORADORES
porque querem ter um tempo para si. Como A larga maioria das pessoas vê hoje o
muitos não constituem família, ou pelo menos trabalho como uma recompensa intrínseca,
não têm filhos, podem fazê-lo sem grande especialmente no setor dos serviços,
impacto. Quando regressam, especialmente responsabiliza-se pelo que faz e vê os
em setores onde há muita falta de recursos, objetivos que tem como desafios, não como
facilmente se empregam de novo e obstáculos. Faz o que gosta, dentro do
recomeçam o ciclo. Ou então, se formos tão possível, e adota uma atitude proativa,
adaptáveis como eles, e os deixarmos fazê-lo, Interessada, automotivada e responsável. É
levam o trabalho consigo. o seu próprio chefe.
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