Page 38 - newDATAmagazine | 01>05>2021
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FutureTECH(k)now! newDATA
MAGAZINE
COLUNA MENSAL
novas, na área das ciências informáticas,
Um Admirável desenvolvidas no contexto da crise
pandémica originada pelo SARS-COV-2. É
MUNDO NOVO impressionante! O estudo apresentava uma
coleção de tecnologias que poderão
revolucionar para sempre serviços de saúde
Se ainda não leram, recomendo vivamente a em todo o mundo. São exemplo robots e
obra de Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo, drones para entrar em contacto com
publicada em 1932. Também está disponível pacientes, para desinfetar salas, soluções de
em formato de série numa das várias telemedicina, com consultas à distância ou
plataformas de streaming, mas é capaz de não simplesmente para combater o isolamento e
ser a mesma coisa. Sem entrar em spoilers, o sim, muitas apps, muitas mesmo e em todos os
livro baseia-se na história de uma sociedade países: apps para localização, para
futurista utópica, na qual os seus habitantes monitorização de sintomas, etc. etc. etc. A área
vivem pacificamente sem qualquer sentido de d a s a ú d e t e m v i n d o a s o f r e r u m a
individualidade, manifestação de crítica, transformação tecnológica (e não só) que terá
desejos ou emoções negativas. Qual era o seguramente um impacto profundo na
truque? Lavagem cerebral. Como em qualquer sociedade e na forma como esta interage com
livro sci-fi futurista que se preze, a evolução os sistemas de saúde.
tecnológica ou bio-tecnológica é sempre a
grande responsável pelo ponto de situação. A Não é, claro, apenas a área da saúde a ver-se
tecnologia evoluía, as possibilidades transformada. Muito se fala na digitalização
aumentavam, a ética do seu uso ou aplicação forçada da sociedade e sim, ela tem estado a
não existia e assim tínhamos a receita para acontecer. Por exemplo, Portugal, que em 2019
uma distopia perfeita. O livro de Huxley e as estava na cauda da Europa como um dos
obras de Asimov ou Orwell têm como fator países que menos compras online efetuava,
comum os dilemas éticos do uso da tecnologia teve de se adaptar e crescer neste segmento. A
e a reflexão sobre a forma como as liberdades própria penetração territorial de Internet
individuais são com frequência relegadas para também era das mais baixas da UE e neste
segundo plano, em prol do “Bem comum”. No último ano, devido à crise pandémica, cresceu
Admirável Mundo Novo, a lavagem cerebral era quase até ao nível da média europeia. Saúde,
justificada pela possibilidade de obter uma paz ensino, negócios, serviços públicos, todos
mundial. Embora escrito há quase 90 anos, é foram “obrigados” a crescer para o digital,
impossível hoje, em 2021, não nos revermos especialmente devido ao fenómeno do
em muitos dos problemas que a obra aborda. teletrabalho que em muitas áreas terá vindo
Mas uma questão em particular pode ser para ficar. Não pretendo escrever sobre o
ressaltada: até que ponto estamos dispostos a “milagre da digitalização na era COVID”. Já
mergulhar cegamente nos avanços muitos o fizeram, diria que talvez até demais.
científicos? Mas quero colocar uma questão: o que
Há poucos meses, foi-me pedida a revisão aprendemos com este “confinamento online”?
científica de um artigo, que se propunha O que aprendemos com esta sociedade digital
recolher e apresentar todas as tecnologias “à pressão”? Afinal duas questões…
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