Page 38 - newDATAmagazine | 03>07>2021
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Para  os  seguidores  desta  política,  parece     investigadores.  Devem,  sim,  manter-se
         que  a  mera  existência  de  alunos  numa            atualizados  no  trabalho  de  investigação
         universidade  é  uma  grande  "maçada".               pertinente  que  é  publicado  e  acompanhar  o

         Imagine-se:  ter  de  se  ensinar  numa               state of art, para o transmitir aos estudantes.
         universidade. Onde já se viu?                         Trata-se, então, de uma carreira dupla? Já não
                                                               falo  das  funções  inerentes  à  docência
                                                               universitária,  como  participar  na  gestão  da
            Pa r e c e   qu e   o s   a l u n o s   s ó        escola, mas, porque se trata de uma questão
         incomodam,  neste  ideal  doente  e                   de apetência e de competências próprias, de
         deturpado de "universidade" que lhes                  ser  um  bom  comunicador  e  motivador  dos
         transtorna o regime de clausura e de                  estudantes. Assim como um investigador não
         "umbigo", que se traduz em produzir                   é obrigado a lecionar, um professor não deve
         investigação  para  publicar,  publicar,              ser  obrigado  a  “pseudoinvestigar”  (dir-se-ia
         publicar.  Produzir  informação  para
         ganhar pó nas prateleiras (ou perder-                 “publicar”). Também neste campo, as ciências
         se na imensidão da Web), como se a                    não  são  todas  iguais,  não  sendo  todas
         ciência  se  pudesse  alguma  vez                     laboratoriais e experimentais. Quantos alunos
         “forçar”.  A  ciência  deve  viver  da                saídos das universidades seguem carreiras de
         liberdade  e  espontaneidade  do                      i n v e s t i g a ç ã o ?   U m a   p e r c e n t a g e m
         pensamento  e  da  descoberta                         insignificante, inferior a 2%?
         sucessiva de erros.
                                                                  Por isso, a informação é abundante, mesmo
                                                               na  ciência.  Mas  devemos  claramente
            As avaliações da tutela e da A3ES (Agência         distinguir  a  quantidade  da  qualidade.  Não

         de  Avaliação  e  Acreditação  do  Ensino             podemos,  como  alguns  parecem  defender,
         Superior)  apontam  para  contratação  e              medir a ciência “ao quilo”.
         valorização  de  investigadores,  pois  só  as           A  universidade  é  academia,  socialização,
         publicações valorizam o currículo, como se a          crítica,  debate  e  crescimento  humano  e  não
         Universidade  se  resumisse  a  um  centro  de        deve ser feita de pseudointelectualidades de
         investigação. A A3ES desvaloriza a existência         investigação  em  cativeiro  e  regime  de

         de professores nas universidades. Parece que          clausura.
         o ideal seria que a Universidade não tivesse
         professores  nem  alunos.  Só  investigadores.                          Miguel Varela
         Independentemente de terem de investigar e                              Professor Catedrático
         obter os seus graus académicos, também os                               ISG

         professores  não  devem  ser  obrigados  a  ser                             Perfil | Profile


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