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M AGA ZINE
MAGAZINE
Alimentar o Futuro
Não só atravessamos a maior crise
ambiental de todos os tempos, como, cada vez
mais, nos precipitamos para uma realidade de
insegurança alimentar e malnutrição a nível
global, na qual predomina a grande inflação
económica e a gradual perda da diversidade
alimentar e de condições de vida duradouras.
Os media lembram-nos quase diariamente
que 2022 denuncia o ano da maior seca em
Portugal, seca essa que afeta não só a Imagem 1. Pegada hídrica média de acordo com o tipo
de produto alimentar, separado pelos respetivos
segurança e a sobrevivência das populações – grupos alimentares. Fonte: Fonte: ACTA PORTUGUESA
sobretudo nos países subdesenvolvidos –, DE NUTRIÇÃO 22 (2020) 42-47 | LICENÇA: cc-by-nc |
como também os preços dos produtos http://dx.doi.org/10.21011/apn.2020.2208
alimentares que consumimos (com destaque
para o setor da pecuária). Medidas para uma Também a agricultura intensiva, de elevada
melhor gestão e poupança dos recursos produtividade, solicitada para responder às
hídricos foram já repetidamente lançadas e sobrenecessidades da população, levanta
aconselhadas, na esperança de que a problemas a nível ambiental, nutricional e de
comunidade integre a necessidade de salubridade, pela predominância da plantação
restringir, por exemplo, o consumo de carne das monoculturas.
bovina – setor que apresenta uma pegada O desgaste dos solos afeta a qualidade
hídrica que pode chegar aos 15.500 litros por nutricional dos alimentos plantados e exige a
kg de peso animal. exploração de numerosas áreas agrícolas, de
Este é um problema que urge ser forma a responder às exigências da
resolvido, mas cuja divulgação parece não sobreprodução, e a intensificação de culturas
estar a surtir o necessário efeito. está a aumentar o consumo de água, ambas
problemáticas que levam, inevitavelmente, à
Em Portugal, os dados confirmam que o
consumo de carne continua inevitavelmente desertificação.
elevado, tal como na Índia, nos EUA e na China, Para além disso, a nível de saúde pública, a
onde a demanda por alimentos de origem agricultura intensiva peca por incluir produtos
animal, per capita, é desproporcional às agroquímicos na produção dos alimentos –
necessidades da população, as grandes s a l v a n d o a s p e r d a s e c o n ó m i c a s e
produções do setor da pecuária continuam a privilegiando a alta produtividade – e produtos
produzir quantidades absurdas de carne e oriundos de processos transgénicos, para um
seus derivados, potenciando essa produção desenvolvimento acelerado das culturas.
através da administração de antibióticos É, por isso, urgente repensar o paradigma da
AGP's (Animal Growth Promoters), que agricultura em todo o mundo e fazer a
representa, por si só, uma crise de saúde transição de um sistema agrícola produtivista
pública. não sustentável e intensivo para uma
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