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FutureTECH(k)now! newDATA
MAGAZINE
COLUNA
As notícias sobre o vício dos videojogos são
Os Media, os Vícios e importantes, mas falham habitualmente na
informação. Estas mesmas notícias deviam
os Jogos Digitais alertar, mas também informar que existem
limites saudáveis e que dentro desses as
Em 1993, a Midway Games lançou um jogo crianças podem ganhar bastante com os
chamado Mortal Kombat. Após uma reação videojogos.
negativa nos media, o jogo foi censurado nos
EUA, com os seus criadores a serem chamados No contexto correto, o ato de jogar um jogo
ao senado norte-americano. Curiosamente, no digital passa a ser um privilégio, um prazer, um
mesmo ano, a id Software lançou Doom, um dos momento de aprendizagem até, ao invés de um
jogos mais violentos de sempre mas, como hábito que se pode transformar num vício.
passou despercebido pelos media tradicionais, Estes limites estão bem definidos e
tornou-se num dos maiores êxitos de sempre e atualizados, como, por exemplo, neste
popularizou o género de jogos de tiros em excelente artigo sobre crianças, adolescentes e
primeira pessoa. Este é um exemplo clássico os media digitais no web site da Academia
do poder que os media têm na influência gerada Americana de Pediatria.
na opinião pública e também nos governos. Através dos videojogos a criança pode
A realidade é que alguns media, ao longo dos ganhar interesse por história e cultura,
anos, pactuaram e alimentaram inúmeros capacidades de resolução de problemas,
estereótipos que tiveram impacto negativo na capacidades de liderança e prazer de
opinião pública sobre os jogos digitais. Entre competição, capacidade criativa e fazer novos
vários estereótipos e exageros, está a amigos. Inclusivamente, alguns estudos
problemática do vício. demonstram que jogos digitais desportivos
Ciclicamente e repetidamente, um qualquer encorajam as crianças a sair de casa e tentar
meio de comunicação social lá lança a notícia replicar os seus skills na rua!
do costume, sobre os vícios dos videojogos nas Os videojogos, as crianças e até os adultos
crianças, e lá vem todo um chorrilho de podem ter uma relação harmoniosa e
diabolização dos jogos digitais em si. duradoura! Eu tenho 39 anos e ainda hoje sou
Sejamos honestos, a Organização Mundial “viciado” em divertir-me com os videojogos.
de Saúde (OMS) considerou os “distúrbios com Tive muita sorte em crescer neste mundo, de
videojogos” uma doença mental e é certo que a forma responsável, graças às regras que os
exposição prolongada aos jogos digitais nas
crianças é prejudicial para o seu meus pais me incutiam. Deixavam-me jogar
aos fins de semana e, às vezes, um pouco
desenvolvimento. durante a semana, caso me portasse bem na
Contudo, a exposição prolongada a todos os escola. Tento fazer o mesmo com os meus
outros meios digitais (TV, smartphones, etc..) filhos, sempre de forma responsável e
também o é! O vício em videojogos nas informada, e esse tem de ser o caminho, estar
crianças é real e bem perigoso, mas há todo um informado e não alarmado.
caminho até que uma ação rotineira se
transforme num vício e se num adulto o Bruno Miguel Silva
processo é mais autónomo, numa criança o
processo é permissivo. Alguém (pai, mãe, avós, Professor Universitário na
etc.) permitiu que a criança ganhasse um Universidade da Beira Interior
hábito repetitivo, degenerativo e compulsivo. Perfil | Profile
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