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Assim, a ciência moderna passou a torna os médicos em “especialistas” na parte
conceber as leis da natureza como o reino da específica do órgão, correndo o risco de perder,
simplicidade e da regularidade, onde são pelo caminho da especialização, a verdade
possíveis a observação e a quantificação complexa do “todo sistémico”. Na explicação
rigorosa. A quantificação transformou-se na do comportamento humano corre-se o risco de
categoria privilegiada, em detrimento da perder a natureza emocional e cognitiva dos
qualidade intrínseca dos objetos de estudo e indivíduos, ou, um analista político ou
da sua interdependência com os outros sociólogo deve incluir na compreensão do
objetos. A tentativa de organização de dados processo político-religioso de radicalização as
apoiados em grandes máquinas e de mudanças climáticas?
programas de análise muito sofisticados Se a informação, segundo Gregory Bateson,
ajuda nesta ideia de simplificação. é o registo da diferença, o conhecimento é o
Podemos encontrar um exemplo típico estabelecimento de um “padrão que liga”. Este
dessa metodologia moderna no estudo do é grande desafio que se coloca hoje aos
clima, e do tão falado aquecimento global, gestores de big data, superar a diferença de
quando, perante a evidência de mudanças tão categorias para identificar “o padrão que liga”,
drásticas no clima que afetam o planeta, nos explicativo dos fenómenos.
concentramos numa variável, como o efeito do Com Bateson aprendemos também a
aumento do dióxido de carbono como necessidade de perceber a informação em
resultado dos motores de combustão, ou, em contexto e como resultado de diferentes
termos sociológicos, atribuímos os problemas atores e circunstâncias. Não basta isolar os
do Médio Oriente a um tema religioso dados e ficar à espera da autoexplicação pelo
extremista. Na verdade, ambos os fenómenos número.
estão ligados de uma forma menos evidente e A nova ciência da informação será o graal da
que exige uma visão sistémica. relação, da inter-relação e da interpretação e
Por exemplo, a Síria atravessou, nos últimos não apenas da descrição e da previsão.
20 anos, um extraordinário período de seca e A big data tem de servir para fundamentar a
consequente dificuldade de subsistência para visão pós-moderna da ciência com algoritmos
as populações dependentes da agricultura, de relação, de inter-relação e explícita
levando à insatisfação e revolta contra o poder avaliação do contexto sistémico. Este é um
instituído e gerido a partir da grande cidade. grande desafio, que vai ser apoiado pela
Possivelmente, a utilização das energias inevitável complexidade de soluções
fósseis não tem apenas a ver com o tecnológicas, mas pelo trabalho e reflexão de
aquecimento global, mas tem a ver também todos os que trabalhamos com informação. A
com a seca, a fome e a radicalização no Médio big data tem de ser uma oportunidade de big
Oriente. A conjugação de variáveis e a knowledge.
interpretação das suas relações exige uma
desconstrução da explicação linear dos João Dionísio
fenómenos. Da mesma forma, estudar o corpo Diretor de Projetos de Investigação
Qualitativa na Dendrite-Marketing
humano através da dissecação exaustiva de Research
partes, cada vez mais ínfimas e segmentadas, Perfil | Profile
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